Nouvelle version du code de suivi Google Analytics

my photoJean-Pierre Raynauld, Biofísico

Universidade de Montreal


You can also visit my page in english


On peut aussi visionner cette page en français


Se puede visionar esta pagina en castellano


Esta é uma versão em Web Page de um modelo que faz parte dos Proceedings of the NATO ASI on Neurobiology , ocorrido em Erice, Sicília, de 2 a 12 de maio de 1995, e que foi publicado pela Plenum Press: "Neurobiology: Ionic Channels, Neurons, and the Brain ,V. Torre and F. Ponti, eds, 1996". Os interessados em mais detalhes podem pedir uma cópia do capítulo "A Compartment Model for Vertebrate Phototransduction Predicts Sensitivity and Adaptation, pp. 201-215" ou fazer um download da versão em Postcript ou da versão em PDF do manuscrito completo (seu browser deve estar apropriadamente configurado para esta operação). Os pedidos de manuscritos serão respondidos por e-mail.


Este documento é melhor visualizado utilizando-se Netscape 2.0 ou outro mais recente. Clicando nas figuras pequenas ou nos números sublinhados pode-se visualizar uma imagem colorida maior ou um gráfico em tamanho maior.


Um modelo compartimentalizado da fototransdução nos vertebrados

Resumo

Desenvolvemos um modelo compartimentalizado para explicar as diferentes propriedades de adaptação e sensibilidades dos cones e bastonetes dos vertebrados. Para os cones, o compartimento natural é uma câmara simples com a membrana plasmática; para os bastonetes, o tamanho do compartimento deve ser definido empiricamente. Neste modelo, o número de compartimentos controla a amplitude da resposta de cada fóton; o tamanho do compartimento determina a posição da curva de Resposta/Intensidade no eixo de intensidade. Usando o teorema da ergodicidade (ou teorema ergódico), as propriedades de adaptação podem ser previstas a partir do número de compartimentos e da constante de tempo de queda da resposta de cada fóton.

Introdução

rod outer segment

Sou biofísico, e atualmente estou interessado em saber por quê bastonetes e cones na retina dos vertebrados têm diferentes sensibilidades à luz e por quê as suas propriedades de adaptação sob condições normais de luz são também tão diferentes quando a bioquímica, bem revisada em [1], parece muito semelhante nestes dois tipos de receptores.

Como ponto de partida, utilizo a já bem estudada diferença anatômica entre a estrutura do segmento externo destes fotoreceptores, e para ilustrar isto utilizo as ilustrações de Alfieri, R. et al. [2] (permissão obtida).


Figura 1: Bastonete mostrando o
empilhamento dos discos numa concha cilíndrica.

cone outer segment

A principal diferença é que, enquanto os discos dos cones ficam livres no espaço, os discos dos bastonetes são fechados dentro de uma concha cilíndrica.

Mais ainda, um estudo tridimensional mostra que o disco de um cone é conectada à parte ciliar da ultraestrutura através de uma abertura mínima que tem menos do que 20 graus do círculo [3].


Figura 2: Figura de um cone mostrando
os discos como sendo parte da membrana plasmática.

A próxima consideração envolve a existência de compartimentos nestas estruturas que limitam, em volume, a extensão das reações bioquímicas que se seguem à captura de um fóton. No caso de um cone, tentarei mostrar que as memebranas limitam o tamanho do compatimento; quando, para o bastonete, estamos lidando com um "compartimento operacional", que definirei mais tarde. Dois fatores e uma hipótese são importantes para a discussão a seguir:

Intensidade-Resposta

exponential saturation curve

A bioquímica que está sob a fototransdução tem sido foco de estudos nos últimos quinze anos; o que se sabe atualmente é bem ilustrado por um esquema de Nakatani. A idéia de que o segmento externo é compartimentalizado não é nova. Já em 1981, para explicar a forma dos dados na curva intensidade/resposta, Lamb et al. [4] desenvolveram o modelo de oclusão total. Esta curva, também chamada de "saturação exponencial", pode ser utilizada para modelar dados experimentais e substituir a curva "Michaelis-Menten"; a sua expressão matemática é: R/Rmax = 1 - Exp[-kI], onde I é a intensidade do flash e k o parâmetro de acerto na curva. Neste modelo, tento obter uma estimativa para o número de compartimentos e seu tamanho tanto em bastonetes quanto cones. A partir dos resultados, tenho uma estimativa da resposta para cada fóton individualmente e um valor para "k" .


Figure 3:
Forma da curva de intensidade-resposta
no "modelo de oclusão total".

Adaptação Weber-Fechner

Sob uma iluminação cuja intensidade não é suficiente para reduzir a densidade do pigmento visual, a redução de sensibilidade dos fotoreceptores com o aumento da luz ambiente segue uma lei descrita há mais de um século, chamada de lei de Weber-Fechner. Ela mostra que a sensibilidade normalizada cai com o aumento da intensidade da luz ambiente "I" de acordo com a relação simples " Io/(I + Io) ", Io sendo a intensidade necessária para reduzir a sensibilidade pela metade.

É interessante notar que um século antes de Weber e Fechner, o francês Pierre Bouguer foi o primeiro a medir o efeito da luz ambiente no limiar do estado fotópico. A medida que ele fez do limiar incremental foi de 1/64 com relação à intensidade de fundo, um valor ainda aceito hoje.

As propriedades de adaptação de um modelo compartimentalizado nunca foram analisadas anteriormente. Meu enfoque é o assim chamado "caixa preta" (black box), e segue as seguintes diretrizes gerais: Após uma isomerização que produziu um efeito máximo, o compartimento é perturbado e as reações que controlam a resposta estão sendo restauradas para os valores de equilíbrio de quando o compartimento está adaptado ao escuro. Das muitas reações que ocorrem através deste processo, uma delas é o limite de velocidade na adaptação. Fiz a hipótese de que a forma da resposta a cada fóton reflete esta reação que controla a sensibilidade. É, portanto, importante definir a forma para a resposta a cada fóton. Escolhi a exponencial simples. Isto é, seguindo uma isomerização, a fotocorrente tem um aumento rápido seguido por uma queda exponencial, caracterizada por uma constante de tempo. Esta não é uma má aproximação, desde que os cones e bastonetes, quando adaptados ao escuro, apresentam este mesmo comportamento [5].

Para analisar um sistema compartimentalizado, faço uso de um teorema da Mecânica Estatística chamado "a hipótese ergódica", ou "o teorema da ergodicidade" que afirma: Para um processo randômico estacionário, um grande número de observações feitas num único sistema em N instantes arbitrários de tempo tem as mesmas propriedades estatísticas que observar N sistemas escolhidos arbitrariamente ao mesmo tempo a partir de um conjunto de sistemas semelhantes. Igualando compartimento a sistema, posso analisar o comportamento de um único compartimento através do tempo, sub uma dada condição de luz ambiente, e predizer o comportamento do fotoreceptor inteiro, formado de um dado número de compartimentos.

Weber-Fechner curve

Depois de uma isomerização que produz uma resposta máxima (normalizada aqui para 1) decaindo exponencialmente com uma constante de tempo "T", a amplitude da resposta ao fóton seguinte vai depender do tempo transcorrido desde a isomerização precedente e será igual a " 1 - Exp[-t/T] ". Como os intervalos entre isomerizações seguem a distribuição de Poisson, podemos simular uma dada intensidade para a luz ambiente e encontrar a resposta (média) no compartimento. Isto foi feito usando Mathematica, e os pontos na Fig.4 são os resultados desta simulação. Pode-se observar que os pontos caem exatamente sobre a curva Io/(Io + I). A conclusão é que tal sistema se adapta exatamente como a lei de Weber-Fechner prediz. Esta é a contribuição maior deste trabalho.

Figura 4: Sensibilidade como função da luz ambiente.
A curva de Weber-Fechner.

O parâmetro simples Io, que até agora foi simplesmente ajustado para acertar os dados experimentais, é agora associado a estrutura do segmento externo, que é o número de compartimentos, e a constante de tempo de queda da resposta de cada fóton. A relação é que Io é gual a N/T, onde N é o número de compartimentos, e T a constante de tempo de queda.

Os resultados são que, a partir do conhecimento do tamanho dos compartimentos, o seu número e a constante de tempo para a resposta a cada fóton, pode-se localizar de forma absoluta a posição das curvas de intensidade e adaptação no eixo de intensidade.

Resultados e Discussão

O caso do cone

A pequena resposta a um flash de um cone mamífero apresenta um pico a mais ou menos 50 mseg.; as proteínas iodopsina, transducina e fosfodiesterase tem coeficiente de difusão indo de 0.5 a 2 mícrons quadrados por segundo. Difundindo em duas dimensões, muito poucas destas moléculas excitadas podem deixar um disco que tem um diâmetro de 1.5 a 2 microns neste curto período. GMP-cíclico, que difunde mais rápido, para ser hidrolisado no disco ativo, tem que primeiro encontrar a saída de seu próprie disco e então encontrar a entrada para o disco ativa. Minha hipótese é que este é um evento raro. Dentro do disco ativo, pode-se mostrar por cálculo simples que o número de moléculas ativas de fosfodiesterase pode ultrapassar o número de moléculas de GMP-c livres presentes. Portanto, a possibilidade de que todos os canais catiônicos estejam fechados depois de uma única isomerização existe.

O primeiro resultado desta análise é que, se dentro dos cones o disco representa um compartimento, e a resposta dentro daquele compartimento é máxima, então a resposta a um fóton é 1/N, onde N é o número de discos. A partir de fotos de microscopia eletrônica, sabe-se que o número de discos por micrômetro é por volta de 33. Então a partir do comprimento total do cone em micrômetros multiplicado por 33 temos o número de discos. Para o cone da tartaruga, o número de discos é perto de 500, e a resposta a cada fóton é, então, de 0,2% de mudança, o que está de acordo com os valores observados experimentalmente de 0,16% [6]. Dados obtidos em 2006[7]oferecem um apoio adicional ao model 1/N. Em ratos alterados geneticamente pode-se obter cones com segmentos externos de comprimento variável. Nos ratos Gt alfa -/- os cones S e M têm segmentos externos de um comprimento de 13.4 mícrons e têm-nos respectivamente do resposta a um fotão de 0.2 e 0.22 % da resposta máxima. O model 1/N prediz 1/(13.4 x 33) ou 0.23 %. Nos ratos Nrl -/- os cones S têm um segmento externo de 7.1 mícrons e a resposta a um fotão é 0.44 %, o model prediz 1/(7.1 x 33) ou 0.43 %. É difícil pedir um melhor acordo entre dados experimentais e um modelo teórico.Isto também indica porque cones são em geral curtos; aumentando um disco ao segmento externo do cone aumenta também a probabilidade de "pegar" um fóton, e reduz ao mesmo tempo a resposta de 1/N para 1/(N+1). A natureza teve que fazer um compromisso entre pegar fótons e fornecer uma resposta de tamanho adequado.

A partir das dimensões do compartimento, ou seja, do disco do cone, é possível calcular um valor para o fator "k" pela forma de saturação exponencial. [8]. O conhecimento da densidade óptica por unidade de comprimento e a eficiência quântica são necessários para derivar que o "k" para cones é igual a: 0,00059 vezes o quadrado do diâmetro do segmento externo do cone expresso em micrômetros. Esta fórmula foi derivada para cones estimulados transversalmente; isto corresponde à situação experimental em que se registra no segmento externo. Ela é válida também para estimulação axial, que corresponde à situação fisiológica, desde que os segmentos externos não sejam longos demais. Para cones de macacos, que têm diâmetro da ordem de 1,5 micrômetros, o valor para "k" calculado com a fórmula acima é igual a 0,001 micrômetros quadrados, que é próximo ao valor experimental encontrado de 0,0004 [9].

Para obter uma estimativa da intensidade de luz ambiente (medida em isomerizações por segundo) que vai reduzir a sensibilidade em 50%, deve-se simplesmente dividir o número de compartimentos (800 no caso do cone de tartaruga) pelo valor da constante de tempo de queda da resposta do cone ao flash tirado dos dados experimentais. Isto fornece uma taxa de isomerização de 7300 por seg. para Io, enquanto os valores experimentais estão entre 2000 e 16000 por seg. [10].

O caso dos bastonetes

Para os bastonetes, o compartimento não é definido por membranas como é o caso dos cones. Aqui temos uma combinação dos fatos de que as proteínas envolvidas no processo da fototransdução têm todas um tempo de vida limitado e que a molécula de GMP-cíclico controlando a abertura dos canais catiônicos tem um coeficiente de difusão muito mais reduzido no ambiente do segmento externo dos bastonetes. O tempo para a resposta do bastonete do mamífero atingir o pico é 100 mseg., o que faz com que mais transducina e mais fosfodiesterase possa ser ativada por uma única rodopsina. A ação da bioquímica pode se alastrar além do espaço inter-discos, e estender-se longitudinalmente. A geometria de pilha de discos no bastonete é também importante no sentido que as moléculas de GMP-cíclico localizadas entre os discos precisam ser hidrolisadas primeiro se a redução na concentração deve proceder longitudinalmente. Isso limita a ação da bioquímica, e estamos na presença do que eu chamo de um "compartimento operacional".

A solução exata para a concentração longitudinal de cGMP perto da membrana plasmática, depois de uma isomerização em um dado disco requereria cálculos complexos em dinâmica de fluidos. Portanto, obteve-se uma fórmula empírica a partir da análise da resposta a cada fóton em várias espécies animais. A fórmula diz que os canais fechados cobrem uma área de membrana plasmática igual àquela contida num disco (duas folhas) do segmento externo. Por cálculos simples obtemos para o "comprimento de oclusão" um comprimento do segmento externo igual à metade do diâmetro. Para o bastonete no sapo e mamíferos isto dá uma redução na corrente perto de 5%, resultado de uma única isomerização, que é o valor obtido experimentalmente. Um conjunto de equações semelhante àquele feito para o cone fornece um valor de "k" para bastonetes igual a 0,01 vezes o cubo do diâmetro expresso em micrômetros. Pode-se então localizar em termos absolutos a curva intensidade/resposta no eixo de intensidade. Para os bastonetes dos mamíferos, o valor calculado para k é 0,08 micrômetros quadrados, enquanto os valores obtidos experimentalmente são da ordem de 0,006 a 0,07. [8,11]

O número de compartimentos "N" em bastonetes é obtido dividindo-se o comprimento do segmento externo por d/2, o que nos fornece um número perto de 20. O parâmetro Io na relação Weber-Fechner é obtido dividindo 20 pela constante de tempo da exponencial ajustada à queda da resposta a um fóton. Para os bastonetes de macacos e humanos, as predições do modelo são que Io deveria estar por volta de 110-113 isomerizações por segundo, enquanto os valores experimentais estão por volta de 100-120 por segundo. [7,10]

Conclusão

A análise da estrutura geométrica do segmento externo dos vertebrados fornece resultados interessantes.

o        Primeiramente, permitiu uma previsão da resposta de cada fóton tanto nos bastonetes quanto nos cones, e um valor para o parâmetro "k" na fórmula de saturação exponencial, permitindo uma localização absoluta sobre a curva no eixo de intensidade.

o        Segundo, com a ajuda do "teorema de ergodicidade ", pude prever o comportamento na adaptação de um sistema compartimentalizado. Se a queda da resposta pode ser aproximada por uma queda exponencial, o resultado é a lei de "Weber-Fechner" Novamente, esta curva pode ser posicionada no eixo de intensidade de uma forma absoluta.

Finalmente, o modelo pode ser testado no sentido em que, em vertebrados de sangue frio, a constante de tempo da queda da resposta a um fóton muda com a temperatura [12] . Pode-se testar se as propriedades de adaptação (Io) variam de acordo com isso.

Seus comentários, críticas e sugestães, serão apreciados. Escreva para: jean-pierre.raynauld@umontreal.ca


BIBLIOGRAFIA

1. Lamb TD, Pugh EN (1992) G-protein cascades: gain and kinetics . Trends Neurosci 15: 291-298.

2. Alfieri R, Sole P, Gentou C, Kantelip B, Kantelip J-P . (1984) Les cellules rétiniennes. Ed. D.G.P.L. Paris.

3. Eckmiller MS (1987) Cone Outer Segment Morphogenesis: Taper Change and Distal Invaginations. J Cell Biol 105: 2267-2277.

4. Lamb TD, McNaughton PA, Yau KW (1981) Spatial spread of activation and background desensitization in toad rod outer segments. J Physiol 319: 463-496.

5. Corson DW, Cornwall MC, MacNichol EF, Tsang S, Derguini F, Crouch R K,Nakanishi K (1994) Relief of opsin desensitization and prolonged excitation of rod photoreceptors by 9-desmethylretinal. Proc Natl Acad Sci USA 91: 6958-6962.

6. Baylor DA, Hodgkin AL (1973) Detection and resolution of visual stimuli by turtle photoreceptors. J Physiol 234: 163-198

7. Nikonov SS, Kholodenko R, Lem J, and Pugh EN. (2006). Physiological features of the S- and M-cone Photoreceptors of wild-type mice from single-cell recordings. J.Gen. Physiol. 127(4): 359-374

8. Baylor DA., Nunn BJ, Schnapf JL (1984) The photocurrent noise and spectral sensitivities of rods of the monkey Macaca fascicularis. J Physio l 357: 575-607

9. Schnapf JL, Nunn BJ, Meister M, Baylor DA (1990) Visual transduction in cones of the monkey Macaca fascicularis. J Physiol 427: 681-713

10. Baylor DA, Hodgkin AL (1974) Change in time scale and sensitivity in turtle photoreceptors. J Physiol 242: 729-758.
Burkhardt DA (1994) Light adaptation and photopigment bleaching in cone photoreceptors in situ in the retina of the turtle. J Neurosci 14(3), 1091 -1105.

11. Kraft TW, Schneeweis DM, Schnapf JL (1993) Visual Transduction in human photoreceptors. J Physiol 464: 747-765

12. Lamb TD (1984) Effects of temperature changes on toad rod photo currents. J Phsysiol 346: 557-578


Do aquário doméstico de
Jean-Pierre Raynauld


(última atualização em 24 de mayo de 2007)
A versão em Português é uma cortesia de Nathalia L.V. Peixoto